José Aguinelo segura o documento de identidade no asilo em Bauru (Foto: Alan Schneider/G1)
O documento de identidade de José Aguinelo dos Santos aponta a data de
nascimento: 7 de julho de 1888, ou seja, 126 anos. Morador da Vila
Vicentina, em
Bauru (SP), desde 1973, Zé Aguinelo pode ser o homem mais velho do mundo. O
G1
visitou a entidade para conhecer um pouco mais sobre a vida deste
homem. Com expressão fechada para os desconhecidos, Zé é de pouca
conversa, mas com a psicóloga Mariana Canassa da Silva, é diferente.
“Ele interage muito com o grupo apesar do jeito introspectivo. Com as
pessoas que ele não está acostumado é mais difícil tirar alguma coisa.
Já com a gente ele conversa, brinca e até conta piada”, disse. Com uma
saúde considerada perfeita pelos médicos, ele adora um prato com arroz e
feijão e tem resistência na hora de tomar banho. Além disso, consome em
média um maço de cigarro todos os dias.
Idoso de 126 anos gosta de ficar sentado na
varanda da entidade (Foto: Alan Schneider/G1)
A idade de Zé Aguinelo foi estabelecida por um juiz da Comarca de Bauru
após uma entrevista detalhada. A cidade natal do idoso na certidão é
Pedra Branca,
no Ceará. O idoso contou que procurou o interior de São Paulo para
trabalhar e depois de algumas cidades conseguiu empresa em uma fazenda
de café da região de Iacanga (47 quilômetros de Bauru).
Para as pessoas do asilo, Zé lembrou que nasceu em um quilombo de
escravos. “Ele contou que tinha uma irmã que batia muito nele e, ao
todo, teve cinco irmãos. O local era grande e não havia camas. Além
disso, dormia todo mundo junto e que a mãe era escrava. Mas que um dia
ela acordou e não era mais escrava”.
Já quando atingiu a fase adulta, Zé saiu do Ceará até chegar ao
interior de São Paulo para trabalhar na roça. Passou por algumas cidades
antes de parar na região de
Iacanga. Zé contou que trabalhou em uma fazenda de café e chegou à instituição através dono da propriedade”, informou a psicóloga.
Rotina tranquila
A rotina do homem que pode ser considerado o mais velho do planeta é
praticamente igual todos os dias. Ele acorda às 6h30 para o café, que
começa às 7h. Depois ele retorna para o quarto para aguardar o banho,
que tem auxílio de cuidadores.
Arroz e feijão têm que ter no prato de José Aguinelo todos os dias (Foto: Alan Schneider/G1)
No almoço, servido às 11h, Zé prefere bastante arroz e feijão, pouca carne e sem folhagens. No dia da visita do
G1,
ele usou uma colher para comer arroz, feijão, chuchu refogado e bife à
milanesa. E resolveu falar um pouco, mas bem baixo. “Está bom. Gosto
mais do arroz e feijão”.
E depois de um rápido cochilo, o idoso volta ao refeitório para um café
às 14h. Três horas mais tarde é servido o jantar. Em seguida, outro
cochilo e, às 20h, uma ceia com chá, café, bolacha ou pão, para
finalmente dormir.
No entanto, uma das coisas que Zé menos gosta é tomar banho. A
psicóloga afirmou que às vezes é impossível levá-lo ao chuveiro. “Não
gosta e tem dia que ele empaca e dá trabalho para sair do salão e ir
tomar banho. E quando ele não quer, não nem fica no quarto. Tem que
ficar insistindo. Às vezes, conseguimos dar banho nele às três da tarde.
Se ele fala que não é não”.
Zé Aguinelo chegou ao asilo em 1973
(Foto: Alan Schneider/G1)
'Saúde de ferro'
A saúde do idoso é considerada boa pela entidade. Zé caminha sozinho e
enxerga bem. “Temos um médico voluntário que vem a cada 15 dias. Exames
de sangue são feitos anualmente. Já foi realizado o exame no Zé e ele
não tem nada. Não tem colesterol, não tem diabetes, não é hipertenso. Os
únicos medicamentos que o idoso toma são uma vitamina e um comprimido
para abrir o apetite, que acaba perdendo com a idade”, enfatizou a
psicóloga da Vila Vicentina.
Ele fica muito pouco no quarto. Se não está na área sentado e fumando
mais um cigarro, Zé pode ser encontrado no refeitório ou no sofá do
salão em frente a televisão ou assistindo as atividades da equipe de
Terapia Ocupacional. Sobre a questão de cigarro não há diagnosticado
nenhum problema com a saúde do cearense.
Já nos momentos sozinhos, o idoso é mais desinibido. “Quando ele fica
um pouco sozinho começa a cantar. Um pouco enrolado, mas um pouco dá
para entender. Não digo que é uma música que conhecemos. É uma moda da
época que a gente conhece”, apontou Mariana.
Odilon é amigo de quarto de Zé há 15 anos
(Foto: Alan Schneider/G1)
Um dos grandes amigos dele é Odilon Camargo, de 73 anos, companheiro de
quarto há 15 anos. “Ele para mim é como meu avô. É uma boa pessoa e um
grande amigo. A gente conversa e trocamos cigarro também”, avisou.
A psicóloga lembrou ainda que chegar aos 100 anos não é para qualquer
um. “É uma grande responsabilidade de toda equipe cuidar do Zé e de
todos os outros 47 idosos. É manter os cuidados e fazer com que ele
tenha uma velhice digna. O trabalho da psicologia dentro do asilo é com a
saúde e com a qualidade de vida deles. Esperamos que muitos outros
cheguem nessa idade”, completou a psicóloga.
Certidão de José Aguinelo expedida em Bauru (Foto: Alan Schneider/G1)
Documentação
O interesse da entidade pela documentação de Zé Aguinelo surgiu há mais
de uma década. O documento de identidade foi registrado em 2001.
“Começou-se a procurar essa documentação quando o processo para o
acolhimento ficou mais burocrático. Então, já não podia ter mais idoso
sem a documentação. Na época, os assistentes sociais e a diretoria
começaram a vasculhar um pouco mais sobre a vida dele. Ele realizou uma
entrevista com um juiz e pelo histórico foi registrada essa data. Não
foi realizado nada específico, mas o juiz atestou essa data”, informou
Mariana.
A direção do asilo pretende conseguir levar o caso mais adiante. Um
teste de carbono 14 pode confirmar a época que Zé Aguinelo nasceu. No
entanto, o exame custa mais de R$ 50 mil. “Um amigo nosso da entidade
está tentando conseguir esse exame sem custo para a entidade”, informou o
presidente da Vila Vicentina, José Roberto Pires.
Zé fuma em média um maço de cigarros por dia (Foto: Alan Schneider/G1)